Capa de O guarani em uma versão em hq
As férias estão aí, e finalmente tenho um pouco mais de tempo para por as leituras em dia. Tempo é realmente algo precioso hoje em dia, então é preciso selecionar o que ler. Embora tenha muita coisa intocada na estante, eis que ao remexer nela encontro meu antigo volume de O guarani, do José de Alencar. Confesso que ao folheá-lo não resisti ao chamado da selva brasileira. Esse é um dos livros que costumo reler de vez em quando para ver se ainda causa aquele mesmo fascínio da primeira vez que o li. Existem livros e filmes assim: guloseimas a serem apreciadas eternamente, uma vez só não basta para suprir a enorme satisfação e desafio que nos oferecem.
Bem, terminei a leitura hoje e sim, o encanto é o mesmo, Peri ainda é um herói fenomenal, Cecília ainda é apaixonante e o final da história continua arrebatador. Sempre achei o cenário e a época da história perfeitos: Nos anos iniciais de nossa colonização, em meio a selva, o fidalgo D. Antonio de Mariz constrói uma casa que é uma verdadeira fortaleza encravada em um rochedo. Ali ele mantém um grupo de aventureiros que lhe devem obediência em uma relação que nos remete aos reis da idade média e os seus vassalos. Não vou aqui tratar de temas de aula de literatura como o papo do bom selvagem, da escola romântica e tal. Vou apenas tratar de minha relação pessoal com o livro enquanto objeto de entretenimento.
Logo no início do romance, Alencar me surpreendeu ao fazer uso de um recurso narrativo hoje comum ao cinema e a televisão. Ele descreve tal qual uma câmera em movimento o percurso do rio Paquequer, penetrando por serras e florestas, até visualizar ao longe a casa sob o rochedo. Continua a descrição aproximando -se e alcançando os degraus para aí adentrar a casa, tornando os ambientes e os móveis praticamente visíveis ao leitor. O resultado é fantástico em termos de narrativa. Além de nos determinar o local exato de sua história, ele deixa claro também, inclusive em notas de rodapé que se utilizou de figuras históricas reais, como o próprio fidalgo e os integrantes de sua família. Isso sem dúvida dá um senso de veracidade ainda maior para a trama.
Após a apresentação do ambiente, conhecemos finalmente os personagens principais: Peri é o herói da história, um índio que torna-se uma espécie de guarda-costas da filha de D. Antônio, a jovem Cecília após salvá-la em um episódio, que mais tarde se explicará por meio de flashbacks. Essa paixão do índio pela moça é praticamente impossível de se realizar. Ele sabe disso, mas se contenta em unicamente ter Ceci por perto, sendo para a moça um servo prestativo e fiel. No entanto são muitas as provações reservadas a Peri: há um motim se formando entre os aventureiros liderados por Loredano, o grande vilão da história, que de posse de um mapa do tesouro ( no caso, as lendárias minas de prata) planeja a destruição da família Mariz. Como se não bastasse, uma tribo sanguinária busca vingança contra os Marizes, atacando a fortaleza sob o rochedo.
Conforme avança na narrativa, o autor deixa claro que uma catástrofe da qual ninguém escapará está prestes a ocorrer. Interessante nisso é que em 1857, no ano de sua publicação em folhetins o Rio de janeiro em peso parecia acompanhar com aflição o desenlace da história. Há relatos de leitores em corre corre, reunidos em torno de velhos lampiões da iluminação pública de outrora e lendo em voz alta os episódios finais. Alguns parentes do autor lhe pediam por misericórdia que poupasse da tragédia as vidas de Ceci e Peri. Alencar parecia realmente decidido a dar um final trágico aos seus personagens, mas parece ter ouvido o clamor do público. Tudo isto me lembra acontecimentos recentes de novelas atuais, onde o público parece decidir por meio do ibope para onde a trama caminhará.
Antes do final épico ainda teremos muitas cenas de ação, descritas com uma grandiosidade espetacular por Alencar. E é nesse ponto que a linguagem apurada do autor torna os feitos de Peri realmente grandiosos. Acho incrível por exemplo, o momento em que ele avança sozinho sob o turbilhão dos índios aimorés, sem deter-se por nada, matando o máximo de inimigos possível até ser finalmente capturado por eles. Um clímax parece sempre se sobrepor sobre o outro em O guarani.
Logo no início do romance, Alencar me surpreendeu ao fazer uso de um recurso narrativo hoje comum ao cinema e a televisão. Ele descreve tal qual uma câmera em movimento o percurso do rio Paquequer, penetrando por serras e florestas, até visualizar ao longe a casa sob o rochedo. Continua a descrição aproximando -se e alcançando os degraus para aí adentrar a casa, tornando os ambientes e os móveis praticamente visíveis ao leitor. O resultado é fantástico em termos de narrativa. Além de nos determinar o local exato de sua história, ele deixa claro também, inclusive em notas de rodapé que se utilizou de figuras históricas reais, como o próprio fidalgo e os integrantes de sua família. Isso sem dúvida dá um senso de veracidade ainda maior para a trama.
Após a apresentação do ambiente, conhecemos finalmente os personagens principais: Peri é o herói da história, um índio que torna-se uma espécie de guarda-costas da filha de D. Antônio, a jovem Cecília após salvá-la em um episódio, que mais tarde se explicará por meio de flashbacks. Essa paixão do índio pela moça é praticamente impossível de se realizar. Ele sabe disso, mas se contenta em unicamente ter Ceci por perto, sendo para a moça um servo prestativo e fiel. No entanto são muitas as provações reservadas a Peri: há um motim se formando entre os aventureiros liderados por Loredano, o grande vilão da história, que de posse de um mapa do tesouro ( no caso, as lendárias minas de prata) planeja a destruição da família Mariz. Como se não bastasse, uma tribo sanguinária busca vingança contra os Marizes, atacando a fortaleza sob o rochedo.
Conforme avança na narrativa, o autor deixa claro que uma catástrofe da qual ninguém escapará está prestes a ocorrer. Interessante nisso é que em 1857, no ano de sua publicação em folhetins o Rio de janeiro em peso parecia acompanhar com aflição o desenlace da história. Há relatos de leitores em corre corre, reunidos em torno de velhos lampiões da iluminação pública de outrora e lendo em voz alta os episódios finais. Alguns parentes do autor lhe pediam por misericórdia que poupasse da tragédia as vidas de Ceci e Peri. Alencar parecia realmente decidido a dar um final trágico aos seus personagens, mas parece ter ouvido o clamor do público. Tudo isto me lembra acontecimentos recentes de novelas atuais, onde o público parece decidir por meio do ibope para onde a trama caminhará.
Antes do final épico ainda teremos muitas cenas de ação, descritas com uma grandiosidade espetacular por Alencar. E é nesse ponto que a linguagem apurada do autor torna os feitos de Peri realmente grandiosos. Acho incrível por exemplo, o momento em que ele avança sozinho sob o turbilhão dos índios aimorés, sem deter-se por nada, matando o máximo de inimigos possível até ser finalmente capturado por eles. Um clímax parece sempre se sobrepor sobre o outro em O guarani.
Se você odeia os clássicos brasileiros, problema seu. mas se quiser repensar seus conceitos este livro pode ser um começo. Aliás eu gosto muito do Alencar. Teve uma fase da minha adolescência que ele era meu autor de cabeceira. Outras obras do autor que me deliciaram foram O tronco do ipê, O sertanejo, As minas de prata, Til, Encarnação e O gaúcho. Falo desses em outro post!
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