segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Falando em clássicos...

 Capa de O guarani em uma versão em hq

     As férias estão aí, e finalmente tenho um pouco mais de tempo para por as leituras em dia. Tempo é realmente algo precioso hoje em dia, então é preciso selecionar o que ler. Embora tenha muita coisa intocada na estante, eis que ao remexer nela encontro meu antigo volume de O guarani, do José de Alencar. Confesso que ao folheá-lo não resisti ao chamado da selva brasileira. Esse é um dos livros que costumo reler de vez em quando para ver se ainda causa aquele mesmo fascínio da primeira vez que o li. Existem livros e filmes assim: guloseimas a serem apreciadas eternamente, uma vez só não basta para suprir a enorme satisfação e desafio que nos oferecem. 
     Bem, terminei a leitura hoje e sim, o encanto é o mesmo, Peri ainda é um herói fenomenal, Cecília ainda é apaixonante e o final da história continua arrebatador. Sempre achei o cenário e a época da história  perfeitos: Nos anos iniciais de nossa colonização, em meio a selva, o fidalgo D. Antonio de Mariz constrói uma casa que é uma verdadeira fortaleza encravada em um rochedo. Ali ele mantém um grupo de aventureiros que lhe devem obediência em uma relação que nos remete aos reis da idade média e os seus vassalos. Não vou aqui tratar de temas de aula de literatura como o papo do bom selvagem, da escola romântica e tal. Vou apenas tratar de minha relação pessoal com o livro enquanto objeto de entretenimento.  
     Logo no início do romance, Alencar me surpreendeu ao fazer uso de um recurso narrativo hoje comum ao cinema e a televisão. Ele descreve tal qual uma câmera em movimento o percurso do rio Paquequer, penetrando por serras e florestas, até visualizar ao longe a casa sob o rochedo. Continua a descrição aproximando -se e alcançando os degraus para aí adentrar a casa, tornando os ambientes e os móveis praticamente visíveis ao leitor. O resultado é fantástico em termos de narrativa. Além de nos determinar o local exato de sua história, ele deixa claro também, inclusive em notas de rodapé que se utilizou de figuras históricas reais, como o próprio fidalgo e os integrantes de sua família. Isso sem dúvida dá um senso de veracidade ainda maior para a trama.
     Após a apresentação do ambiente, conhecemos finalmente os personagens principais: Peri é o herói da história, um índio que torna-se uma espécie de guarda-costas da filha de D. Antônio, a jovem Cecília após salvá-la em um episódio, que mais tarde se explicará por meio de flashbacks. Essa paixão do índio pela moça é praticamente impossível de se realizar. Ele sabe disso, mas se contenta em unicamente ter Ceci por perto, sendo para a moça um servo prestativo e fiel. No entanto são muitas as provações reservadas a Peri: há um motim se formando entre os aventureiros liderados por Loredano, o grande vilão da história, que de posse de um mapa do tesouro ( no caso, as lendárias minas de prata) planeja a destruição da família Mariz. Como se não bastasse, uma tribo sanguinária busca  vingança contra os Marizes, atacando a fortaleza sob o rochedo.
     Conforme avança na narrativa, o autor deixa claro que uma catástrofe da qual ninguém escapará está prestes a ocorrer. Interessante nisso é que  em 1857, no ano de sua publicação em folhetins o Rio de janeiro em peso parecia acompanhar com aflição o desenlace da história. Há relatos de leitores em corre corre, reunidos em torno de velhos lampiões da iluminação pública de outrora e lendo em voz alta os episódios finais. Alguns parentes do autor lhe pediam por misericórdia que poupasse da tragédia as vidas de Ceci e Peri. Alencar parecia realmente decidido a dar um final trágico aos seus personagens, mas parece ter ouvido o clamor do público. Tudo isto me lembra acontecimentos recentes de novelas atuais, onde o público parece decidir por meio do ibope para onde a trama caminhará.
     Antes do final épico ainda teremos muitas cenas de ação, descritas com uma grandiosidade espetacular por Alencar. E é nesse ponto que a linguagem apurada do autor torna os feitos de Peri  realmente grandiosos. Acho incrível por exemplo, o momento em que ele avança sozinho sob o turbilhão dos índios aimorés, sem deter-se por nada, matando o máximo de inimigos possível até ser finalmente capturado por eles. Um clímax parece sempre se sobrepor sobre o outro em O guarani.
     Se você odeia os clássicos brasileiros, problema seu. mas se quiser  repensar seus conceitos este livro pode ser um começo. Aliás eu gosto muito do Alencar. Teve uma fase da minha adolescência que ele era meu autor de cabeceira. Outras obras do autor que me deliciaram foram O tronco do ipê,  O sertanejo, As minas de prata, Til, Encarnação e O gaúcho. Falo desses em outro post!

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Uma luzinha de vaga-lume


Olhaí nosso querido vaga-lume hippie!
Esse post vai para os que já passaram dos vinte anos, mas se você não se encaixa nesse perfil pode ir se aconchegando também, afinal vale a pena conhecer ou relembrar uma série de livros feita especialmente "para incentivar e criar o gosto pela leitura, com histórias eletrizantes, cheias de ação, com suplemento de atividades ", como dizia na contracapa. E olhe que que nem precisei rever nada para lembrar dessa propaganda contida no final dos livros, tão viva ficou marcada na memória desse entusiasmado  jovem leitor.
Com ilustrações repletas de vigor, eis nossa ilha

Criada a partir da década de 70, a série é composta por mais de uma centena de livros, todos voltados ao público infanto-juvenil, e tem como símbolo a figura de um vaga-lume hippie, que como o camundongo Mickey evidentemente também modernizou-se com a passagem do tempo.
      O primeiro desses livros  que eu li foi a um trilhão de anos atrás, e foi justamente um drama bem choroso do Jair Vitória: Zezinho, o dono da porquinha preta. Além de marejar os olhos com pena do menino que tudo sofria devido à amizade que nutria pela porquinha, ainda morria de medo da figura do pai dele, um homem rude e intratável que  em determinado momento da história ameaça e parte para os finalmentes, dando uma surra de cinto no filho. Lembro que fiquei perplexo com a leitura da cena, acho que não esperava que isso viesse a acontecer em uma história para crianças. O final feliz que veio depois realmente me emocionou muito, mas não foi  exatamente esse drama que me fez tão fã da série: A ilha perdida foi a leitura mais emblemática da minha quinta série, tanto que acho que foi o livro que mais reli na minha vida. Aventura com A maiúsculo e inocência de sessão da tarde, tem elementos que agradam em cheio os moleques, além de uma certa tensão sob medida para os jovens leitores. A partir daí não parei mais, li a série praticamente inteira, poucos livros me escaparam. Minha mãe sabiamente os usava como escambo para me fazer realizar tarefas chatas, ir ao dentista, fazer exame de sangue e etc.
           É bom ressaltar que os autores da vaga-lume seguiam uma linha própria de criação que acaba os caracterizando e nos fazendo escolher qual deles amamos mais. Alguns para mim são lendários: Maria José Dupré, do já citado Ilha perdida carrega consigo boa parte do espírito da série, embora tenha publicado nela apenas dois livros. Ofélia e Narbal Fontes, o casal que amava trabalhar temas históricos também me encantava, assim como o seu compadre de tramas Francisco Marins, que também buscava nos sertões brasileiros inspiração para suas aventuras. lúcia Machado de Almeida, era outra ótima  autora, que para mim deu umas escorregadelas em suas histórias do herói Xisto, mas que compensou ao me surpreender e aterrorizar com o seu (pasmem!) serial killer em O escaravelho do diabo. Outro autor digno de nota era o criativo Marcos Rey, um ótimo autor de tramas de suspense investigativo, talvez um dos mais prolíficos e lembrados autores da coleção.
              Aliás, finalmente O mistério do cinco estrelas, clássico absoluto do Marcos Rey está ganhando versão no cinema. Antes tarde do que nunca não é mesmo? O escaravelho do diabo também está em fase de produção a um tempão, espero que o projeto dê certo, pena que esse tipo de coisa anda no Brasil a passo de tartaruga. Acho que até agora o único livro da série a ganhar outras mídias foi o Éramos seis, que tornou-se uma popular novela no SBT. E você, também curtia a série? Qual o seu favorito?

terça-feira, 9 de outubro de 2012

À espera da redoma

                                                                                          Fonte: Divulgação
 
Aguardadíssimo romance do Stephen King, Sob a redoma finalmente sai no Brasil pela Suma de letras/Objetiva agora em outubro. O livro começou a ser escrito a quase quatro anos e mantém o estilo de King a que tanto já nos habituamos: uma cidadezinha às voltas com o mal trazido por algo ou alguém, praticamente mais de uma centena de personagens, conexões com outros livros do autor e críticas bem conduzidas à sociedade americana.  
O básico da história nos traz rapidamente à memória outro clássico do King dos anos 80, A dança da morte, mas ao que parece aqui não teremos o bem x o mal, e sim o ser humano e as ações que pode cometer movido pelo desespero. Na obra uma redoma impenetrável surge do nada sob o céu da pequena cidade de Chester mills, e põe o lugar em isolamento. Alguém lembrou do filme dos Simpsons? Aqui a coisa vai ser mais sombria e sem espaço para piadas. Aliás, nosso escritor favorito não se baseou na animação do Homer, e sim o contrário: Os simpsons beberam da fonte em um pequeno texto de King, que foi aprimorando-se até tornar-se o romance em questão.
Nos EUA Sob a redoma já é um sucesso estrondoso, que até já teve os direitos adquiridos pela Dreanworks para se tornar série televisiva. O preço por aqui vai ser um pouco salgado, mas é bom observar que trata-se de um verdadeiro tijolão, de quase mil páginas!Vale ainda ressaltar essa capa, cuja arte ficou sensacional. Na frente do livro se tem essa visão que é apenas um aspecto da redoma, pois na parte de trás temos uma continuidade para a ilustração mostrando a cidade imersa no mais puro caos. O jeito é começar a economizar desde já nossos suados centavinhos.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

The Walking dead: Um olhar sobre a hq

                                                                                                                 Fonte: Divulgação

Atualmente o mundo todo está de olho na série de tv The Walking dead, exibida no Brasil pelo canal Fox e baseada em um  dos mais vendidos gibis dos EUA . Como essa hq é uma das minhas favoritas no momento  ( dividindo atenções com o também ótimo Vampiro americano, de Scott Snyder e Rafael Albuquerque), nada mais natural que uma resenha aparecesse mais cedo ou mais tarde. Vale lembrar que aqui são considerações apenas sobre a hq, um projeto muito bem executado pelo roteirista Robert Kirkman e pelos desenhistas Tony Moore e Charlie Adlard.
O tema dos zumbis não é exatamente novo, volta e meia é revisitado por cineastas, que lançam novas ideias e contribuem para o enriquecimento deste subgênero do terror.  No entanto, creio que foi no campo das hqs, com o início da publicação de The walking dead em 2003 que o filão renovou-se com maestria. Não que a série não beba na fonte da filmografia dos sem túmulo: há momentos que são pura homenagem a clássicos antigos e atuais do gênero. Eu diria no entanto que a grande novidade trazida pela série foi o olhar dirigido essencialmente aos vivos: são os sobreviventes do holocausto apocalíptico que dominam nossa atenção e são suas ações que movem com rapidez eletrizante os acontecimentos. Ou seja, uma história sobre mortos-vivos onde o que importa mesmo são os vivos, as tensões dos relacionamentos, a perversidade que habita a alma humana, o fim das regras sociais em nome da sobrevivência. 
Não vou aqui dar spoilers, mas aos que não conhecem a trama basta citar a linha básica do enredo: um grupo tenta desesperadamente sobreviver em meio ao caos de um mundo dominado pelos zumbis. Nosso personagem principal aqui é propositalmente um homem da lei: o policial Rick Grimmes, que após acordar de um coma descobre que o mundo não é mais exatamente o mesmo: a cidade está tomada pelos "mortos andantes" do título e quem pôde escapar desse inferno fugiu para Atlanta deixando tudo para trás. Um bom início, que nos traz á lembrança a atmosfera de filmes como o britânico Extermínio. Juntando-se a um acampamento de sobreviventes nas proximidades de Atlanta, Rick reencontra sua família e dá início à busca de um  local onde possam ter segurança.
A partir desse ponto, o roteirista começa a adequar com habilidade os acontecimentos aos locais onde o grupo tenta fixar-se. Um condomínio, uma fazenda e até onde pude alcançar, uma penitenciária vão servir de palco a uma espiral crescente e imaginativa de mortes e violência. Só faltou o shopping de George Romero! Interessante notar na fase da penitenciária a ironia da situação criada por Kirkman: zumbis circulando  em liberdade, e vivos lutando  para obterem segurança, trancafiando-se na prisão.
Quanto à arte da hq, temos um início que agradou a maior parte dos fãs, com os desenhos precisos de Tony Moore. A partir da sétima edição ele continuou fazendo as capas, mas o miolo ficou sob o comando de Charlie Adlard, que capricha nos tons cinzas e torna todos os personagens ambíguos, sempre com expressões mergulhadas nas sombras. Nem sempre fica claro para o leitor quem ali é um mocinho ou um psicopata, e esse ponto é até positivo pelo interesse que acaba gerando em quem lê.O desenhista deixa a desejar em alguns momentos de ação e nos cenários, simplificados demais, mas capricha nos momentos de gore, que não são poucos. Um prato cheio para os fãs do gênero.