quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Os laços da turma da Mônica

                                                                           Fonte: Divulgação
     Quem nunca leu um gibi da Mônica e sua turma quando criança? A verdade é que a personagem é onipresente na infância brasileira a gerações. Lembro que já tive centenas de revistas dos personagens do Maurício. Bons tempos! Criador excepcional e  empreendedor com notável visão de mercado o autor sempre soube qual o momento para reinventar-se. Foi assim que surgiu o inovador projeto graphic MSP, onde artistas são convidados a fazer releituras de seus famosos personagens.
       O resultado? Uma revolução como nunca se viu nas hqs nacionais. As quatro hqs produzidas até agora foram sucesso absoluto de crítica e acredito até que a essa altura se esgotaram, tamanha foi a vendagem. A primeira delas foi o Astronauta: Magnetar, de Danilo Beiruth, seguida por Turma da Mônica: Laços por Vítor e Lu Cafaggi. Logo após vieram as também excelentes Chico Bento: pavor espaciar por Gustavo Duarte e a do Piteco, batizada de Ingá, com arte do paraibano Shiko. 
     A primeira dessa leva que tive o prazer de ler foi justamente a  Turma da Mônica: Laços, e é sobre essa obra prima que me deterei nesse post. Que publicação maravilhosa! Há toneladas de sensibilidade em cada quadro da hq, desenhada com tanto capricho que a leitura é interrompida a todo momento apenas para que possamos ficar admirando a arte.
    O roteiro também é excelente: O cachorro Floquinho desaparece e aí Cebolinha, Mônica, Magali e Cascão partem à sua procura. Mais simples que isso impossível, mas a forma como a história é contada é muito cativante. Primeiro acerto: Vítor Cafaggi e sua irmã Lu trazem até nós um bairro do Limoeiro nostálgico que nos remete imediatamente aos anos 80. A própria concepção do roteiro parece partir de filmes da década que tratam de aventura e de amizade, como os ótimos Conta comigo e Os goonies. Caçar elementos da década fica sendo então uma diversão a mais para quem lê. Segundo acerto: a homenagem a momentos clássicos das hqs do Maurício, com a participação de outros personagens marcantes soma-se a um respeito tão sincero às características dos personagens que não há como não se encantar!

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Livro do mês: Deixa ela entrar

 
Fonte: Divulgação 

         Um dos livros mais perturbadores que já tive o prazer de ler, o sueco Deixa ela entrar, do jornalista John Ajvide Lindqvist  tornou-se  um best seller instantâneo alcançando altas vendagens em mais de trinta países, fez bonito também em suas versões cinematográficas ( tanto a americana quanto a de seu país de origem) e merece ser nosso primeiro resenhado de 2014.
        Publicado no Brasil em fins de 2012 pela Globo livros, Deixa ela entrar é uma original e densa trama de terror que traz um sopro de fôlego e maturidade para as histórias de vampiros. Sua trama se desenrola em uma gelada e sombria Estocolmo do início dos anos 80, precisamente em um modesto subúrbio onde passamos a conhecer Oskar, um garoto que na transição da infância para a adolescência precisa lidar com o mundo altamente perverso que o rodeia. Sofre bullying, é introspectivo e inseguro, tem pais separados que o negligenciam e por aí vai. Ao passo em que terríveis e estranhos assassinatos passam a desafiar a polícia local, o garoto conhece por acaso a garota Eli, que passa a morar com seu suposto pai no apartamento vizinho. Surge então uma amizade inesperada entre os dois, que inconscientemente tecem um pacto para ajudarem-se mutuamente. E é aí que muita coisa vai mudar!
        Cruel e sanguinolento sem ser gratuito, há aqui ainda um bom exemplo de texto onde as ambiguidades trabalham no sentido de aguçar a curiosidade do leitor. Uma herança que nos remete imediatamente a textos como A volta do parafuso, de Henry James, onde os fatos muitas vezes são jogados com absurda clareza, mas com artimanhas narrativas tão eficazes que o leitor simplesmente se recusa  a crer no que lê. Impactante e Verossímil na construção de seus personagens e situações, os elementos reais e sobrenaturais se mesclam de modo espetacular no texto. Em suas mais de 500 páginas, o autor tem notável controle do fluxo de informações, tecendo saltos temporais nos momentos certos e apresentando com ótima agilidade cenas de terror fortes e antológicas.
         Se tiver a chance de ler, não hesite. Deixa ela entrar é uma obra prima gótica contemporânea  e suas cenas finais ao mesmo tempo tocantes e perturbadoras com certeza foram talhadas a ficar por muito tempo  na memória dos leitores.